Dona Lira andava devagar pela Estrada
de terra, com Tia Rute pendurada em seu braço. Ambas estavam suadas, cansadas,
e com cabelos levemente bagunçados. Tia Rute parecia frustrada, irritada por
qualquer razão, enquanto Dona Lira apenas parecia indiferente. Uma indiferença
nascida da tristeza. Era uma mulher cansada.
“Alguma coisa deu errado...”,
murmurou Tia Rute para si mesma. Dona Lira apenas seguia seu passo lento. “Alguma
coisa deu errado...”.
Quando chegaram até o orfanato,
Hortência descascava batatas para o jantar, e Gilmar estava trocando algumas
telhas de sua casinha. Ao que parecia, tudo estava normal. Tia Rute largou o
braço de dona Lira e fora ver o pequeno Laio. Ajoelhou-se ao lado do menino,
bateu duas palmas na altura da boca e murmurou algo.
- Por aqui ficou tudo tranqüilo enquanto
estivemos fora? – perguntou Dona Lira à Hortência, na cozinha.
- Sim, dona Lira. Os meninos dormiram
quase que a tarde toda. Deve ser o calor. E como foi o menino, já ficou com o
pai, então?
- Oi? Ah, sim. Claro.
- Esse povo vem buscar vocês duas,
mas nem se dão ao trabalho de trazê-las até a porta. Acho um desrespeito isso.
- É porque eles já tem o que
querem...
- Quando eles tem o que precisam da
gente, a gente já não importa mais... – murmurou a garota.
Dona Lira a olhou, como alguém que
percebe ouvir mais do que fora dito.
- Tem razão. – tocou no ombro de
Hortência. - Querida, vá descansar um pouco, eu termino de preparar o jantar.
- Muito obrigada.
***
A noite estava escura, fria, e a luz
branca da lua tornava o quarto de Gilmar, claro e com paredes pálidas. Havia
passado das dez horas da noite e, como de costume, todos já estavam em suas camas. Gilmar estava deitado, inquieto, incomodado. Algo o
perturbava. Algo o deixava confuso. Ouviu passadas macias no jardim. Caminhou silencioso até sua janela
e, por uma fresta, vira três pessoas andarem em passos calmos. Eram duas mulheres de
vermelho, e o terceiro tinha três metros e andava como se fosse...
***
Gilmar estava na floresta. Havia ele, a luz
da lua que sacrificava-se para alcançar o solo, cortando as silhuetas das
milhares de folhas e galhos. Raro era o lugar em que a luz alcançava o chão.
Ele caminhava, e seguia o homem grande. Um macaco que andava feito homem, com
pouco mais de dois metros. Ele seguia a criatura, que jamais olhava para traz.
O Macaco então chegou a um campo,
aonde a luz branca da lua cheia marcava o solo batido. No centro havia uma
pedra e havia um circulo de crânios de crianças. Sombras vibravam no chão
branco. Sombras de aves. Não, eram crianças mortas. Voavam em círculos.
***
Um menino caía do céu. Ele o vira
cair. Sim, não fora uma confusão, ele realmente caiu do céu.
***
- Aaaaarh! – gritou Gilmar,
caindo em sua cama, como se estivesse flutuando sobre ela. Sentou-se,
assustado.
Foi até a “Casa das Crianças”, que era
aonde dormiam os garotos e as mulheres. Laio dormia, O Menino dormia,as demais
crianças dormiam. E um ronco audível vinha do quarto onde dormiam as duas
senhoras. Voltou para sua casinha, e tentou dormir.
6 comentários:
Intrigante... Me confundo com as visões de Gilmar, se são reais se são coisas de sua cabeça... E a riqueza de detalhes descritos no texto me fazem quase estar no cenário da história, isso que é envolver o leitor, rs. Me senti assim somente uma vez na vida. Que venham os demais capítulos.
esta caverinha me assustou, mas o texto me segurou kkkk
esta e a marisa donald comentando acima, so foi assim q consegui comentar rsrsrs
Sério que se impressionou com o cranio?
Eu achei tão bonita. Apesar de se tratar do crânio de uma criança, tem esse efeito de passagem de tempo, umidade, fungos, achei a imagem até bem poética.
essa caveira não me fez pensar na passagem do tempo.
Com relação a história em si, eu fiquei bem assustada, mas pelo menos já acho que minha teoria sobre o Menino foi por água abaixo.
As imagens iniciais de cada texto, tem influenciado muito a minha leitura.
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