Em algum
lugar da Bahia, escondia-se a discreta cidade de Itaxoxota do Norte. Povoada
por dois mil habitantes, Itaxoxota era muito conhecida por seus moradores ricos.
Dona Lindura era muito conhecida por sua beneficência, e por abominar aquela “rente”
feia da cidade.
Dona Lindura
era alta, bronzeada, com pernas torneadas, cabelos louros platinados e dois
lindíssimos seios importados da França. Lindura era a esposa do prefeito da
cidade, mãe de duas meninas: Bunitinha e Coisinha.
Bunitinha
nascera com dois lindos olhos azuis quase fosforescentes e cabelos claros. Herança
do bisavô holandês, do lado pernambucano da família. Era meiga, carinhosa,
gentil e tímida. O xodó da família.
Mas quando
nasceu a segunda filha, a parteira diminuiu a luz do quarto, e entregou o bebê
enrolado numa manta, cobrindo o rosto.
- Dê cá minha minina, cabra velha! – e
descobriu o rosto do bebê – Valei-me nosso senhor Jesus Cristo!
A menininha
só não tinha cabelos nos lábios e nas pálpebras. Era zoiúda, com olhos abertos e
vesga. Como sua irmã mais velha, puxara o lado pernambucano da família. Mas o
que herdou não foram os olhos claros, somente a cabeça grande.
- Esse
negocinho deve sê filhote de Pituca, saiu de mim não! Traz minha filha e devolve
esse trocinho pra cachorra.
Depois de
uma semana, os pelos caíram do rosto da criança, mas isso não deixou a mãe mais
feliz. Era um bebezinho feio, todo judiadinho. Ah, como sofria dona Lindura
olhando aquele bebê cabeçudo, bochechudo e com nariz esborrachado.
- Não é
normal sê feia assim... – ela dizia a si mesma enquanto amamentava a criatura.
Certa vez a
abandonou na porta de um convento. Com a criança, um bilhete: “Senhor, receba
com a mesma alegria que me deste”.
Jurandir, o
pai, na época era um rapaz de vinte e poucos anos, a fez buscar o negocinho de
volta, pois começava uma carreira política e isso não podia pegar bem. E
Lindura buscou a criança.
Só foi
registrada com quase três meses de idade. Sem saber que nome dar, o tabelião
sugeriu Coisinha, e foi o que aconteceu.
Quando
completou dois anos, Dona Lindura decidiu que a menina era feia demais para
sair na rua. Além de feia era fanha. Mas nos anos seguintes ficou com dó da
solidão de Coisinha e, quando esta fez três anos, teve uma grande idéia.
Inspirando-se em reportagens sobre o oriente médio, Lindura encomendou
burcas customizadas, com estampas coloridas e infantis, para sua filha. Eram no
geral, aberrações ainda piores que a feiúra da criança.
Aos
vizinhos, dizia que a antiga doença que a impedia de sair na rua(mentira!)
havia sido curada graças à promessa que ela fizera à Santo Expedito de cobrir
sua beleza(mentira!).
Na mesma época
ela contratara uma fonoaudióloga particular que, com o tempo, passou a ser a
única pessoa a ver o rosto de Coisinha. Luzinete era seu nome. Luzinete virou
madrinha da menina.
- Ô, dona
Lindura. A senhora não me deixa levar a coisinha no oculista?
- Oxênte, nem pensar. Não quero ninguém me prócéssando
por se assustar com meu trocinho.
- Oxi, Dona
Lindura, mas é malvadeza. E seu eu levar Coisinha num médico em Serro Azul?
- Dona
Luzinete, aprécio sua générósidade, visse, mas desvesgar essa menina não vai dexá
menos feia...
- Mas não
ser vesga já é alguma coisa...
Luzinete foi
fazendo o que podia por Coisinha. A menina crescera sem olhar em espelhos.
“Já teve o
azar de nascer feia, “deusquími-livre” se parte um espelho com essa carranca e
o azar piora...”, preocupava-se a mãe.
Quando fez
quinze anos, Coisinha pediu aos pais uma festa. Com baile, valsa, um cadete
bonito e tudo mais. Recebeu um sonoro “Se endoideceu-se foi?”. Mas aos dezoito,
dona Luzinete convencera Jurandir e Lindura a mandar a filha para férias no Rio
de Janeiro. E fora a menina e sua madrinha. Três semanas e depois voltaram.
Dona Lindura
ficou três dias sem conseguir dizer palavra. Estava horrorizada: Coisinha não
usava mais burca.
A menina
andava pela cidade com o rosto rígido de uma fêmea revoltada e a cidade estava
chocada a olhar para seu rosto: Dona Lindura não mentira sobre a promessa.
Aquela criança, outrora uma menina feia, era a morena mais jeitosa de toda a
cidade.
E quando
voltou do Rio de Janeiro, passou em casa para pegar suas coisas e se mudar para
o bordel Dona Quixota, o comercio mais importante de toda a cidade.
Mulher da vida ela queria ser, mas dona
Satanilda disse que ela era “apétitosa dimais”, e que devia ser a mais cara.
Ninguém tinha dinheiro para pagar, e Coisinha Mais Linda, como passou a ser
chamada, passou a ser a recepcionista desejada e inacessível do bordel mais
famoso de toda a Bahia.
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2 comentários:
A MELHOR HISTÓRIAAAA!!!!!!!
AMEIIII!!!!!!
Gente, essa foi perfeita!
Tudo, PARABÉNS!!!!!!!
RI DEMAIS! kkkkkkkkkkkkkk
Gostei!!!
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