Henrique estava preso fazia nove
meses e estava ansioso com a chegada do natal. Não estava feliz por ver sua
família. Mas havia sido incumbido de realizar uma missão: assassinar um
policial. Esta era a regra que teria que obedecer para integrar a facção criminosa
de São Paulo, o PCC, e com isto, não ser assassinado dentro da cadeia.
Henrique fora preso por matar um rapaz de dezenove anos por vingança.
Cresceu na Brasilândia, bairro da periferia de São Paulo. Aos dezesseis anos
conheceu Helena, com quem teve um filho, Marcos. Quando Henrique completou
vinte e dois anos, seu filho tinha cinco.
Ao
contrário do que pensaria qualquer pessoa que ouvisse sua história, Henrique
era um rapaz de boa família, classe média baixa. Vivia em casa própria, num
bairro humilde, mas um bom bairro. Tinha uma motocicleta, e era com ela que ele
estava na noite em que uma tragédia se abateu sobre sua família:
Ele
voltava do trabalho, por volta das dezenove horas, quando foi detido pela
polícia, pois sua rua estava interditada. Um bandido estava em um bar, usando
uma criança como escudo para fazer ameaças aos moradores. Jamais entendeu a
história.
Havia
apenas uma viatura policial naquele momento, e o bandido cortou o pescoço do
menino, largou-o no chão, e correu. E ele corria feito um animal que foge de um
predador. Alguns tentaram segui-lo, como policiais correndo na viatura. Mas
ninguém como Henrique.
Quando chegou perto de seu filho, o menino já estava inconsciente. Ele
pegou a mesma faca, e correu até sua moto e começou a perseguir.
Onde
acabava o bairro, a favela começava. Lá estava ele, no encalço do bandido, como
nem a polícia poderia alcançar. Passou com a moto por cima dele, e então desceu
dela. Inconsciente pelo próprio ódio, ele deu uma única facada no coração do
rapaz. E a policia surgiu neste momento, e o levou para a delegacia.
Ao
contrário do que pensava, os policiais e o delegado não o trataram mal, e no
decorrer do processo, foram categóricos em justificar a insanidade do momento,
e isto diminuiu sua pena para poucos anos de reclusão. Mas na cadeia a história
fora bem diferente.
O
menino que ele matara era um membro da facção. Um membro irrelevante, percebeu
Henrique, mas era um peão na obra do “partido”, e ele teria que substituí-lo.
Com o mérito de seu bom comportamento, fora tranquilamente confiado a sair para
passar o natal com sua família. Mas seu primeiro compromisso seria ligar à cobrar
para um determinado telefone e receber as coordenadas.
Recebeu um endereço onde um policial vivia, dinheiro e uma motocicleta,
para matar e ir embora. Ali ele esperou, com medo, pela chegada do policial.
Quando isto aconteceu, ele descobriu se tratar de um dos policiais que o
defenderam na morte do assassino de teu filho. Ele deveria matá-lo, ou ele
próprio morreria.
Ele
tinha as mãos nos bolsos, e num dos bolsos de seu moletom, um revólver
carregado. O policial desceu do carro com um menino pequeno. Henrique puxou o
martelo de sua arma, e começou a suar. Matar o assassino de seu filho no calor
do momento poderia torná-lo capaz de ser indiferente aos outros, como haviam
sido com ele próprio?
O
policial o viu e Henrique sorriu. Largou o revolver e desceu da moto. Cumprimentou-o,
e agradeceu por tudo. O policial achou aquilo estranho, mas o abraçou. Henrique
partiu para a casa de sua família.
Fora
uma noite feliz. Sua última.
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