![]() |
Pomba-Gira, por Caio de Figueiredo |
Ela era
divorciada, 52 anos. Jorge tinha 28 anos, era bonito, vigoroso e atlético. Ela,
após os trinta passara a ganhas alguns quilos por ano e, agora, estava decidida
a buscas ajuda espiritual para manter seu relacionamento.
Mãe
Ciníra de Oxossi era uma macumbeira bastante conhecida. Começara com os
trabalhos espirituais por volta dos 12 anos e agora aos 70 era uma mulher rica,
guru de pessoas bem-sucedidas e, de fato, muito habilidosa no que se propunha a
fazer.
Quando
Maria Cristina procurou Mãe Ciníra, já sabia que ia fazer algo tanto moral,
quanto espiritualmente errado. Haveria um despacho, seria em uma encruzilhada,
e a sexta-feira mais próxima era curiosamente num dia 13.
Na
noite em questão, Maria Cristina sentia medo e constrangimento. Não queria ser
vista por vizinhos fazendo despachos e oferendas. Foi por volta da uma e
quarenta da manhã que Mãe Ciníra, já enfurecida, intimidou Maria Cristina a
descer e fazer o trabalho.
Começou
com sua chegada na grande avenida. Carregavam uma sacola com um alguidar
pequeno, uma garrafa de champagne, cigarros, sete rosas vermelhas, e um par de
brincos com um colar. Andariam até a esquina da Avenida São João com a Rua
Conselheiro Crispiniano, o cruzamento de três vias mais próximo.
Antes
que chegassem ao Largo do Paissandú, porém, algo aconteceu...
Como
que de uma porta invisível surgida no meio da calçada, surgira um velho bem
alto, todo branco com uma bengala e um chapéu Panamá.
“Minha
Nossa Senhora!”, exclamou Maria Cristina. Mas Mãe Ciníra, por sua vez,
assustou-se, começou a chiar feito uma panela de pressão e a girar até que, de
uma gargalhada, parou e o encarou.
Maria
Cristina olhava assustada para o velho, que aparentemente, a ignorava. Olhava
apenas para as sacolas com as oferendas. Mãe Ciníra, com a Pomba-Gira
incorporada, batera o pé esquerdo no chão, como se desafiasse o velho. O que
Maria Cristina não podia ver era como o velho e a pomba-gira enxergavam um ao
outro...
Havia a
avenida, repleta por brumas, com edifícios e postes esmaecidos. Duas mulheres
quase imperceptíveis e uma gloriosa negra de cabelos longos e armados, trajando
apenas uma imensa saia vermelha, com os seios grandes e belos à mostra. De
frente para ela estava a criatura.
Parecia
um tipo de aranha com um corpo hominídeo pendurado próximo ao chão, mas
suspenso no que parecia uma teia nebulosa branca que chegava até o céu e se expandia
por toda direção. O corpo era de um velho monstruoso, não com braços, mas com
muitos tentáculos, e aquele semblante de homem idoso, cuja pele parecia feita
de cera de vela.
Permaneceram
encarando-se por quase um minuto, até que a Pomba-Gira bateu o pé esquerdo
outra vez. O velho se enfureceu e a agarrou com um de seus tentáculos,
apertando-a na altura do estômago e do pescoço. E depois ele riu aquela
gargalhada não parecia vir de câmaras de uma garganta, mas de corredores de
pedra de alguma caverna nas profundezas do mundo.
Maria
Cristina pôs-se a correr. A Pomba-Gira sumiu, e Mãe Ciníra caiu no chão, morta
num enfarto fulminante.
Continua...
0 comentários:
Postar um comentário