Com o passar dos anos, Gilmar aprendera a se irritar com as reações de Dona Lira e tia Rute, como acontece com os filhos quando os pais começam a ter manias de gente velha. Particularmente quando não havia qualquer razão aparente para alguma determinada reação.
Enquanto cavalgava até a carroça, abandonada no caminho, ele pensou, incomodado. Porque não aceitaram que mudasse a posição da cama? Seria mais fácil cuidar de ambos os garotos.
Quando encontrou carroça, desceu do cavalo, e olhou para a estrada. Era quase noite. Voltou para o cavalo e cavalgou até o lugar em que encontrara o garoto.
O céu estava limpo, com muitas estrelas, embora ainda não fosse noite. Ele olhou pela direção aonde havia a elipse formada pela imaginada queda da criança. Havia uma estrela, que ficava à leste do cruzeiro do sul. Ele caminhou até o ponto em que o garoto estava deitado, horas antes.
O mato estava mais escuro do que o céu, tamanha distância do cume de algumas árvores, mas em poucos passos, o rapaz surpreendeu-se com uma luz que lhe pusera medo. Vinha de onde havia encontrado o garoto horas antes. Era de um prateado intenso, como se houvesse uma prata mágica cujo brilho da lua causava uma fosforescente radiação.
Havia a cavidade de circunferência perfeita, com o solo alterado pela queda do garoto, no entanto, sem que a vida sobre ele sofresse qualquer dano com o impacto. Abaixo do mato, brilhava um pó dourado. Quando Gilmar, de fora da cavidade, esticou o braço direito na direção do buraco, o pó levantou-se inteiro, e grudou em todo seu antebraço e sua mão, que brilhou sob a luz da lua.
Assustado, sacudiu o braço, e mas o pó não caiu. Ele trouxe para perto do peito o braço e subitamente a luz se apagou, e seu braço estava nu. Quando o estendeu outra vez, lentamente na direção do buraco, a luz da lua o fez reluzir outra vez. Gilmar admirou-a com temor e perplexidade. O que haveria de ser isso?
Num ruído suspeito, olhou para a frente. Quatro metros dele havia um macaco de duas vezes seu tamanho olhando-o sério. Como que inconsciente, o rapaz olhou para o braço novamente, e então dera-se conta da criatura, mas olhou novamente e não havia nada.
Estava cansado. Devia ser obra de sua imaginação. Como fora a luz, e depois a criança encontrada adormecida, num lugar aonde um pó que brilha sob a luz da lua grudara em seu braço direito?
Gilmar procurou a criatura.
“Não é o momento”, ouviu em sua mente. “Parta!”.
Tomado por temor, ele correu até a carroça, prendeu no cavalo e partiu com pressa. O braço que brilhava como um artefato de prata, fora coberto com um pano velho.

[CONTINUA NO PRÓXIMO DOMINGO, 19/02]
3 comentários:
menino!
tá demais!
não vejo a hora de ler tudo junto!
e mais ainda, de acabar com esse mistério.
EU gostei muito desse aqui.
Ops, quase perco esse inédito. Estava a viajar.
Gostei também, Alex.
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