Sentada no banquinho de quatro pernas ao lado da cama, Dona Lira bocejava.
“Ele vai morrer”, pensou, olhando para o menino deitado na cama. Parecia o palpite de alguém sem esperança, mas aquela era uma mera questão de intuição.
- Teve alucinações durante a noite. “Não há descanso...” foi a única coisa que distingui no meio dos resmungos. Gilmar foi buscar medicamentos. Pobre homem, com este temporal por vir. – dissera à Hortência, uma jovem que, sentada na cama, trocava compressas na testa do menino.
- Precisa tirar as roupas do varal, Dona Lira. Pegaram bastante vento, devem ter secado.
Esquecera-se completamente. As roupas. Saiu do casarão sem pressa, com uma das mãos sempre apoiada em uma parede, como se precisasse escorar-se. Era apenas um gesto de uma mulher cansada, não propriamente debilitada. Lá fora estavam os varais cheios de lençóis e algumas roupas de crianças.
Apanhou uma bacia num gesto automático e começou a tirar lençol após lençol sem nenhuma pressa. O céu era escuro. Olhou-o, e dele para a direção por onde a qualquer momento voltaria Gilmar trazendo comida. Distraiu-se com um lençol. Alguma ave havia se empoleirado e feito suas sujeiras. Suas mãos seguraram o lençol, apertaram-no num gesto de ódio, e ela observou seus dedos. Como estavam magros. Parecia uma arvore seca, com manchas e galhos cheios de nós.
Nunca tivera mãos bonitas e quando ela própria era jovem e ainda lhe havia alguma beleza, suas mãos já estavam calejadas pelo ofício nada delicado que lhe havia sido imposto por ser mulher. Admirou-as por um instante. Esfregaria novamente o lençol que estava limpo, não fossem as fezes do animal. Sentia pena de si mesma. Concentrada em suas mãos, assustou-se com um trovão alto.
Arrancou os demais lençóis passou para dentro do casarão. Olhou novamente para a estrada. A chuva havia começado.
Jamais ela partiu daquele lugar e agora era tarde. Passaria o resto de seus dias e, ao morrer, seria esquecida pelo mundo, e nunca teria existido.
“Ele vai morrer”, pensou, olhando para o menino deitado na cama. Parecia o palpite de alguém sem esperança, mas aquela era uma mera questão de intuição.
- Teve alucinações durante a noite. “Não há descanso...” foi a única coisa que distingui no meio dos resmungos. Gilmar foi buscar medicamentos. Pobre homem, com este temporal por vir. – dissera à Hortência, uma jovem que, sentada na cama, trocava compressas na testa do menino.
- Precisa tirar as roupas do varal, Dona Lira. Pegaram bastante vento, devem ter secado.
Esquecera-se completamente. As roupas. Saiu do casarão sem pressa, com uma das mãos sempre apoiada em uma parede, como se precisasse escorar-se. Era apenas um gesto de uma mulher cansada, não propriamente debilitada. Lá fora estavam os varais cheios de lençóis e algumas roupas de crianças.
Apanhou uma bacia num gesto automático e começou a tirar lençol após lençol sem nenhuma pressa. O céu era escuro. Olhou-o, e dele para a direção por onde a qualquer momento voltaria Gilmar trazendo comida. Distraiu-se com um lençol. Alguma ave havia se empoleirado e feito suas sujeiras. Suas mãos seguraram o lençol, apertaram-no num gesto de ódio, e ela observou seus dedos. Como estavam magros. Parecia uma arvore seca, com manchas e galhos cheios de nós.
Nunca tivera mãos bonitas e quando ela própria era jovem e ainda lhe havia alguma beleza, suas mãos já estavam calejadas pelo ofício nada delicado que lhe havia sido imposto por ser mulher. Admirou-as por um instante. Esfregaria novamente o lençol que estava limpo, não fossem as fezes do animal. Sentia pena de si mesma. Concentrada em suas mãos, assustou-se com um trovão alto.
Arrancou os demais lençóis passou para dentro do casarão. Olhou novamente para a estrada. A chuva havia começado.
Jamais ela partiu daquele lugar e agora era tarde. Passaria o resto de seus dias e, ao morrer, seria esquecida pelo mundo, e nunca teria existido.
(PRÓXIMO CAPITULO NA QUARTA FEIRA 18/01)

4 comentários:
Passei blog achando que hoje sairia a nova postagem e que bela surpresa tenho eu de ver que foi publicado ontem e que tem muito mais logo ali.
Agora, falando do texto, podia ter soltado um pouco mais, pois ficou muito misterioso e com isso ficou aquem no sentido da historia, o desenrolar. O bom, eu que quarta tem mais.
É, estou animado. O terceiro capitulo eu conto mais da história dos personagens.
Qual será o destino de Gilmar e DªLira ? Com certeza esse menino vai dar uma reviravolta na vida deles... Ops, eu disse que não ia comentar nada, mas tinha que dar o ar da graça, mostrar que estou acompanhando. O mistério me encanta, gosto disso, me prende mais à leitura.
Quarta leremos mais.
Oi Adilson. Então, tem mais personagens. No terceiro eu começo a entrar mais na personalidade deles. Apesar de ter planejado um final, a coisa esta tomando um caminho diferente do que eu havia pensado.
Postar um comentário